domingo, 2 de janeiro de 2011 | By: Carolina Vieira

A moça do biquíni azul


Todas as tardes ela chegava na praia e depositava seu par de chinelos, suas chaves  e seu short jeans na frente da minha guarita.  Provavelmente veio passar o Natal e o Ano Novo aqui, talvez por causa da família, que deve ter alguma casa ou apartamento por aqui.
Sua paixão pela água era notável.  Mal chegava e já ia adentrando o mar.
O mar estava ótimo.  Bandeira amarela,  água morna,  ondas altas e muitas pessoas se aventurando, assim como ela.
Chegou na rebentação.  Apesar de baixinha, ela tinha muita coragem. 
Ora mergulhava, ora pegava “jacarés”.  Dependia da onda.
Mas, chegou o vento.   E com ele as mudanças.  O mar ficou rebelde.  Os riscos aumentavam.
Ela mergulhava e logo em seguida já vinha outra onda lhe cobrindo a cabeça.  O desespero aumentava, mas ela não deixava de se divertir.
Mas agora, moça do biquíni azul, preste atenção no que eu penso.  Mesmo que tu tenhas engolido água, mesmo que o sal te cegue os olhos,  mesmo que o teu cabelo te atrapalhe, mesmo que tu não saibas nadar, trata de te recuperar rápido.  E agora vira para trás e olha, olha o que te espera.
Isabel Gonzales Dermann

Presente de Natal


           Então é isso. Hoje é véspera de natal e eu tive a infeliz idéia de ir comprar um presente à tarde. Em um “R$1,99”. Tudo o que posso dizer é: Meu Deus. E Ele nem nasceu ainda.
            Bem, apenas por essas duas palavras já deve ser possível imaginar a situação do estabelecimento. O lugar estava cheio e os ventiladores não suportavam o calor, tanto dos 38 °C lá fora quanto o humano que se formava a partir dos corpos se chocando à procura de uma passagem para chegar em tal prateleira de presentes amontoados.
            Até que minha compra foi relativamente tranqüila. Fiquei um tempo procurando por um presente que servisse para minha irmã pensando “cara, o que será que eu posso achar aqui?” até que encontrei um porta-jóias em forma de piano e um chaveiro de cubo mágico, o que pode parecer até “chinelagem” do ponto de vista de alguns, mas tem um significado especial para ela.
            Mas estou divagando. O assunto que eu realmente queria atingir com essa crônica é o básico: “Será que não estamos capitalizando o Natal?”
            Quer saber? Acho que não. Claro, toda essa propaganda de “Natal é tempo de presentear quem se ama” é um grande incitamento para nos fazer comprar, mas não deixa de ser verdade, não é? Ninguém dá presente de Natal a quem não gosta (a não ser a certos amigos-secretos e familiares chatos), então os presentes são uma maneira de dizer às pessoas que as amamos e desejamos tudo de bom no Natal. E sem desculpa de “estou sem dinheiro esse ano”. Um presente de verdade não precisa de dinheiro, só de criatividade e sentimento.
            O maior presente que já ganhei – ou melhor, que meu pai ganhou – foi uma pedra. Isso mesmo, uma pedra, e nem era preciosa. Era somente uma pedra de brita de rua. O que a fez ser valiosa foi quem a deu. Um menino do jardim de infância chegou para meu pai e falou “Tio, tenho um presente pra te dar” e entregou a pedrinha.
            Quem já foi pequeno e quis dar um presente para alguém, não importa qual fosse, não importa quem fosse, sabe como esse menino se sentiu.
            Natal agora pra mim é época de nostalgia e de preservação de tradições, sendo uma delas a lembrança de que afinal, foi nesse dia que Jesus nasceu. E o maior presente que eles nos deu foi inspiração, e não custou nem R$1,99.

Anne Carow