segunda-feira, 27 de setembro de 2010 | By: Carolina Vieira

Continência

Auge da infância. Sentimentos fervilhando, na vontade espontânea de extravasar. Correr, pular, berrar. Brincar. E a reprimenda dos pais. Obedecer ao estereótipo dos bons modos na casa dos parentes era o único requisito exigido. Fora isso, poder-se-ia fazer o que se quisesse. Mas o que mais é possível fazer quando se deve usar de bom comportamento?! A firmeza na ordem de não fazer bagunça era clara: não fazer bagunça. O que restava, então, era caminhar pelo pequeno pátio enfeitado de Natal e conversar com os penduricos inanimados e reluzentes. Respondiam com seu próprio reflexo.
Um Papai-Noel de plástico. Inflável. É bem próximo de um ser humano... Talvez, no fundo do inconsciente, naquele cerebrozinho miserável, pelo menos, na imaginação fértil de uma criança, ele pudesse ouvir e entender as pessoas. Uma companhia artificial. Era considerável, uma vez que seria impossível deixar viver a criança interior. Se era preciso manter os ânimos resguardados, também era possível descontar a energia na barba. Aperta. Murcha. Infla novamente. Destrua-a, que ela é capaz de recompor-se.
Um Papai-Noel inflável. Companhia artificial. Um modo de distração naquele Natal tão maravilhoso, tão sereno...

Rodrigo Schmitt Lemmertz

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