segunda-feira, 27 de setembro de 2010 | By: Carolina Vieira

Fica apenas o vazio

O tumulto que seguia àquele momento perdia-se no vazio. Se refletisse melhor antes de agir, não estaria, agora, naquele banco, desolada. Abandonada. Estagnada. Por que não tentara compreender o filho? Seria demais aceitar algo que fosse contra sua vontade? Pelo visto, o bastante para fazê-lo revoltar-se e fugir de casa...
Contudo, nada mais podia fazer, senão observar a cena que a rodeava. Em meio a tantos vendedores ambulantes, de livros, CDs (piratas) e brinquedos e os tocadores de violão, aqui e ali, ateve-se à imagem daquela criança que dormia tranquilamente, deitada em uma espécie de saco preso aos ombros da mãe, uma velha índia que, descalça e acocorada, recolhia os panos com seus artesanatos. Estavam no metrô. No subterrâneo.
Aquela mulher, tão miserável e inocente tinha, rente a seu peito, o afeto e o carinho em forma humana, naquele pequeno corpo, assim, desanuviado. Desconexo do mundo. À outra, no banco, para quem de nada mais servia a alto poder aquisitivo, nem ao menos restara o sorriso do filho. Ao contrário; apenas a mágoa e o rancor.
Foram embora. Em direções opostas. Uma para casa, para a família. A outra, para a imensidão vazia da casa, para a solidão.

Rodrigo Schmitt Lemmertz

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